segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Iguacine - 28/08/2009

Mulheres parteiras.

Qual seria o melhor jeito de começar a falar dessas mulheres senão por descrever o nascimento. O curta retrata a história das parteiras tradicionais de Pankararu, um território localizado no Sertão de Pernambuco.
Com o objetivo de fortalecer um processo de formação e atualização para as já atuantes parteiras de Pankararu, foi realizado um curso de formação por Heloísa Lessa, 47 anos, cujo maior desafio era unir os conhecimentos tradicionais das parteiras ao serviço social de saúde, lhes garantindo uma certificação pelo governo.
Heloísa propôs essa formação com o intuito de incentivar os partos normais, deixando claro em uma de suas falas a respeito do processo - “Esquecemos que parir é um ato fisiológico, como fazer cocô ou sexo”, diz, com a experiência de quem trocou informações com parteiras tradicionais. Anexou a vivência à sua formação de enfermeira, com mestrado, doutorado e congressos internacionais.

(Heloísa Lessa)


Essas parteiras dedicam seu coração as mães em trabalho de parto, com todo carinho, paciência, sabedoria e experiência de quem ajudou a trazer ao mundo centenas de crianças. Embora não tenham freqüentado nenhum curso de especialização em partos, nem sejam enfermeiras ou médicas diplomadas, essas mulheres retêm um conhecimento nato de como conduzir um parto, algo que já é tradição, que a muitas décadas é repassado de geração em geração. Também são cientes dos problemas que podem ter, das doenças que podem surgir e a consciência dos seus limites para reconhecer quando precisam de ajuda médica durante o parto.
Como um ritual, elas preparam a mãe para chegada de seu bebê, com suas rezas pedindo pela proteção de Deus, conversam procurando acalmá-las, orientá-las, distraindo como podem para aliviar a dor e tornar o nascimento o mais natural possível enquanto esperam o momento certo de a criança nascer. A morte durante esse tipo de parto é quase nula, tanto da mãe, quanto da criança, sem falar na rapidez da recuperação física da mãe após o parto.
As parteiras de Pankararu exercem essa profissão com orgulho e satisfação impossíveis de serem descritas, a ligação com a mãe ocorre não só na hora do parto, mas elas envolvem-se com a grávida durante toda a gestação e continua o acompanhamento após o nascimento, como se aqueles filhos que elas ajudaram a trazer ao mundo fossem um pouco delas também. Mas do que uma ajuda durante o parto, esse gesto é um ato de cidadania, de solidariedade e, sobretudo de amor ao próximo dessas parteiras, que prezam pela saúde e bem estar do seu semelhante como se fosse consigo própria. A experiência de quem já sentiu aquelas mesmas dores faz com que a sensibilidade delas torne seu trabalho o melhor possível para mãe, dando-lhes todo suporte emocional necessário para o nascimento do bebê.
Heloísa ressalta que além deste tipo de parto ser o melhor para mãe, em termos de segurança contra infecções e de ter uma recuperação bem mais rápida e eficaz, o parto natural representa algo grandioso na vida da mulher, algo do qual a sociedade vem abrindo mão quando dá preferência a cesarianas, a sua identidade, autoridade e força, força de perceber que tem capacidade de realizar e conquistar.
Quando a mulher percebe sua força e coragem necessária ao dar a luz, juntamente vem o sentimento de poder, de propriedade das coisas a sua volta, ela se sente “dona de seu próprio nariz”, afinal ela foi capaz de gerar e conceber a luz a um outro ser, uma conquista que é só sua e que só pode ser sentida por ela mesma. Só quem é capaz de tamanha proeza pode sentir-se tão grandiosa quanto ela. Isso a torna imbatível, incansável e pronta para os desafios propostos pela vida. O parto normal significa muito mais do que ter um filho de forma natural, sem cirurgias, é muito mais que isso, é o resultado de um esforço único feito por aquela escolhida pela vida para fazer nascer outra vida dentro de si. É um poder que só ela é capaz de experimentar e que acompanha uma série de certezas de que ela pode qualquer coisa. Enquanto a cesariana não requer o esforço da mãe na hora do parto, o parto normal conta pura e simplesmente com a vontade e determinação da mãe, que participa ativamente para que seu filho querido, seu bebê, gerado com tanto amor dentro de seu corpo, venha ao mundo da melhor forma possível.
Certamente, essa mãe se orgulhará muito mais ao olhar aquela delicada criatura em seus braços, sentir-se-á plena consigo mesma e jamais assumirá o sentimento de negligência por não ter contribuído para facilitar que seu frágil e amado bebê viesse ao mundo com toda segurança e atenção que lhe deve ser dedicada.
O parto normal é mais do que só dar a luz, é um ato de amor, talvez o maior de uma mãe para com seu filho. O mais doloroso talvez, mas certamente o mais admirável, que torna qualquer dor por maior que seja apenas um prefácio da mais linda história de amor. E as parteiras são unicamente os anjos da guarda desse lindo tesouro que estava escondido dentro do mais precioso baú, fazendo de tudo para que esse tesouro chegue com segurança ao seu destino e torcendo para que a cada dia ele seja lapidado de forma que vire o mais belo diamante já visto em todo mundo.


( Nascimento de um bebê com auxílio da parteira)



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